terça-feira, 20 de dezembro de 2011

O AVIÃOZINHO





A cada ano, nesta profissão, muitas histórias passam por nossos consultórios. Histórias engraçadas, fantásticas, absurdas,comoventes, verdadeiras e mentirosas. Vou deixar um colega ortopedista do RS, Theodomiro Xavier contar a sua:

 ”   Tarde de consultório:
- Entra ficha 8 – Voltoir !
Era um menino de 6 anos em mal estado geral, febre e ansiedade. A mãe o colocou na mesa de exames.
- Dr., o Voltoir já tomou um monte de remédios e está cada vez pior, muita febre e dor na perna, não caminha mais.
Na mão, varias receitas de analgésicos, corticóides e antitérmicos. Eu examinei a criança. Dor, rubor, calor e grande aumento de volume na coxa esquerda. Osteomielite aguda.
- Esta criança está em jejum?
- Esta!
- Suba já para o bloco cirúrgico e leve esta ordem para chamar o anestesista de plantão, isto está cheio de pus.
Na drenagem a seguir, saiu quase um litro da secreção. No dia seguinte, fui passar a visita nas enfermarias e posteriormente no isolamento. Entrei no quarto do Voltoir, cumprimentei o menino e a mãe, comecei a fazer o curativo e perguntei:
- Que tal Voltoir, como te sentes?
- Dr., eu quero te dar um presente, toma, é o meu aviãozinho!
Eu olhei para aquele rostinho ainda pálido e com os olhinhos ainda fundos, a boca sorrindo, a mão esticada me oferecendo um aviãozinho de lata . . .
Foi um baque muito forte e me pegou de mau jeito! Eu levei a mão para pegar o presente mas, a mão parou no ar . . . senti que se pegasse o avião eu iria choras.
Já operei muita gente: ricos e pobres, instruídos e analfabetos, velhos e moços, e quando passo a visita no dia seguinte vem sempre uma queixa:
- Passei uma noite de cachorro!
- Doeu pra caramba!
- Se eu soubesse não tinha operado!
E agora, ali estava uma criança de 6 anos me presenteando com o único brinquedo que tinha, em agradecimento. A mão parou no ar.
- Olha, querido, muito obrigado mesmo, mas agora eu vou entrar no bloco cirúrgico e lá eles não deixam entrar de avião. Na volta eu passo aquí para pegar o aviãozinho, guarda ele pra mim, tá bom?
- Ta bom!
Hoje, passados mais de 40 anos, o Voltoir deve ser um cinquentão, certamente tem filhos, netos. Sem dúvida ainda tem uma cicatriz na coxa esquerda e provavelmente não se lembra mais disto tudo, mais saibam que ele plantou uma bela flor no coração deste ortopedista.



2 comentários:

  1. Acredito que o Dr.Theodomiro Xavier não tenha ganhado recompensa maior pelo seu trabalho. É por essas e por outras que Jesus Cristo disse que devíamos ser como crianças.Pureza,sinceridade,verdade,humildade,qualidades que perdemos quando crescemos.

    ResponderExcluir
  2. eSTOU COM SESSENTA, MAS ALGUM TEMPO BUSCO ACAHAR ESSE AVIANZINHO DE VARINHA PARA FAZER PARA NEU FILHO CAÇULA... FANTASTICO!
    LUCIANO AGUIAR

    ResponderExcluir